Um ensaio sobre a saudade com o disco "Bai", de Henrique Cartaxo
Artista baiano apresenta diversas nuances do sentimento com trabalho audiovisual
Foto: Pedro Ivo Carvalho
Saudade talvez seja um termo difícil de entender. Se não chegou, com certeza ainda vai chegar, ou assim se espera. Por vezes, é um sentimento doloroso, mas também gostoso. A saudade, em síntese, é algo extremamente bom, pois significa que há humanidade e, sobretudo, amor. Henrique Cartaxo traz diversas nuances da saudade no álbum "Bai", lançado recentemente nas plataformas digitais e como projeto audiovisual no YouTube.
O registro, que traz sonoridades diversas, desde a MPB suave e melancólica, passeando pelo jazz e até mesmo com lampejos de música caipira na dobra de vozes em "Taiobas", onde Inés Terra faz participação especial.
Falar sobre saudade em um momento de pandemia, onde todos estão, ou deveriam estar, isolados do mundo, é essencial. Claro, o carro-chefe do sentimento é a relação com as pessoas, mas o sentimento aparece também com os lugares, com coisas tão pequenas que talvez nunca imaginássemos que sentiríamos falta.
Henrique Cartaxo é baiano e, como muitos nordestinos, acabou migrando para São Paulo. Ele canta sobre sua terra natal, sobre familiares, lembranças afetivas, sobre presentear. Longe do sentido consumista, presentear é mostra-se presente, e em tempos que o fim do mundo parece nos espiar, é difícil estar por perto.
"Bai" simboliza a reflexão externa em que cada um precisa ter. Tudo há de se encontrar, sentiremos não só o cheiro mas os pingos das chuvas rotineiras em tardes de verão na terra da garoa, ou mesmo as gotículas repentinas que raramente dão ar da graça na mesma época do ano na Bahia.
O mundo está vivo e, provavelmente, ainda estará. Mas há de pensarmos, quem somos nós além da superficialidade em sermos produtivos, horas de trabalho, sucessos de carreira, ou qualquer outra coisa que foge de nossa humanidade. Sozinhos somos o puro vazio. Henrique Cartaxo nos mostra que a saudade é pura conexão com o ato involuntário de ser humano. Quando tudo isso acabar, visite seus amigos, presenteie familiares, diga 'eu te amo' , mostre afeto, deixe o virtual de lado, pois tudo isso é o que importa.
Sobre o disco
"Bai" é o disco de estreia de Henrique Cartaxo. O registro está disponível nas plataformas de streaming com distribuição da Tratore e conta com trabalho audiovisual disponível no YouTube (assista no final do texto). São no total onze faixas, feitas em momentos distintos.
“As canções são bem separadas no tempo. A maioria foi feita entre 2012 e 2017, nos meus primeiros anos morando na cidade de São Paulo”, explica Cartaxo. “Várias outras faixas foram atualizadas através do arranjos, equilibrando os sentimentos que originaram as canções e as deste momento mais atual”, declara.
As referências do cantor são diversas. Vão desde Caetano Veloso e Tom Zé até grupo britânico Radiohead. “A minha referência consciente maior é a obra de Caetano Veloso, como é para tantos cancionistas. Me inspiro muito nessa corrente da música brasileira que usa a canção como forma de refletir sobre a vida, sobre os acontecimentos, sobre o amor, o infinito e a finitude. Para muitas pessoas no Brasil, a canção é a psicanálise, a terapia, a filosofia, a medicina. É nossa maneira de pensar talvez mais disseminada e frutífera”, conta.
Para a versão visual do disco, Cartaxo, que é editor de cinema, convidou alguns amigos para ajudá-lo com a produção dos vídeos. “Pedi a algumas pessoas queridas que gravassem em suas casas pedacinhos de vídeo e me mandassem. Com eles estou compondo os vídeos”, comenta Cartaxo. “A resposta e as colaborações que recebi foram muito bonitas, sinto que todo mundo fez com amor, acho que já nos encontramos um pouquinho, mesmo virtualmente, no processo”, finaliza.
O registro ainda conta com participações de Inés Terra, Daniel Dias, Marina Beraldo (Bolerinho) e Rafael “Chicão” Montorfano (Quartabê) e tem produção assinada por Ivan Gomes e André Bordinho.
Assista abaixo o projeto audiovisual "Bai":
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