Em 1971, Erasmo Carlos atingiu a maturidade com "Carlos, Erasmo"

Em 1971, Erasmo Carlos atingia a maturidade com "Carlos, Erasmo"

Em 1971, Erasmo Carlos atingiu a maturidade com "Carlos, Erasmo"

Com o fim da Jovem Guarda, cantor alçou novos voos e lançou uma das obras mais criativas da música brasileira

Foto: Divulgação

Em 1971, Erasmo Carlos partia para, até aquele momento, o voo mais incerto de sua carreira. Com o fim da Jovem Guarda o tijucano precisava dar um jeito, meu amigo. E de fato, deu. Lançou uma das obras mais originais da música brasileira, o álbum "Carlos, Erasmo", seu sétimo disco de estúdio, porém debute no selo Phillips.

A fomentação do álbum veio por diversas angústias que o artista estava tendo naquela virada de década. Cabe lembrar que era época de intensificação da antes envergonhada ditadura; estava instaurado o AI-5 no país. Com o fim dos programas na TV Record e um processo por porte de drogas, Erasmo Carlos passava por uma tremenda depressão e pensou até em deixar de fazer música.

O ânimo voltou quando o tremendão ouviu "Aquele Abraço", de Gilberto Gil, tocar no rádio. A partir dali, decidiu que precisava urgentemente voltar ao âmbito musical. Antes sem gravadora, foi contratado por André Midani para fazer parte do Selo Phillips, que integrava a gravadora Phonogram.

Anos depois, em entrevista concedida ao jornalista Ruy Castro, Erasmo disse: "O André Midani me disse: 'você vai gravar o que quiser, com quem quiser, da forma que quiser. Faça o que quiser, mas faça. É importante qualquer coisa que você crie".

E de fato, ele fez o que quis. Juntou em um disco só grandes compositores e músicos nacionais. Um exemplo claro disso é a canção de abertura do registro, "De Noite Na Cama", faixa que de certa forma cria uma atmosfera boêmia em tom de samba rock e tem autoria de Caetano Veloso, que enviou a letra da faixa diretamente de Londres, onde estava exilado.

No disco anterior, "Erasmo Carlos e Os Tremendões", o cantor já tinha gravado faixas de outros compositores, como o próprio Caetano, além de Ary Barroso e Regininha. Porém, no registro de 71, a artilharia veio pesada.

O time de músicos contava com ninguém menos que Sérgio Dias (Mutantes) e Lanny Gordin nas guitarras, Dinho Leme (Mutantes) na bateria e Liminha (Mutantes) no contra-baixo e também guitarras.

Algumas das canções, como "26 Anos de Vida Normal" e "Maria Joana", contam com arranjos de Rogério Duprat. Chiquinho de Moraes arranjou e regeu as demais faixas, com exceção de "Ciça Cecília", que teve interferência de Arthur Verocai. Manoel Barenbein assinou a produção, com também exceção de "Ciça Cecíla", que tem assinatura de Nelson Motta, tendo em vista que a música esteve na trilha da novela "A Próxima Atração".

Além de composições do próprio Erasmo, pintaram no disco letras de nomes como Taiguara, Jorge Ben Jor, Paulo Sérgio e Marcos Valle, além da tradicional dobradinha Roberto/Erasmo. Marisa Fossa empresta sua voz em "Masculino Feminino", escrita por Homero Moutinho Filho.

No total são 13 canções, que variam entre muitas nuances, desde a psicodelia até as raízes roqueiras cravadas em Chuck Berry ou Elvis Preasley passando também pela influência do tropicalismo. É um disco que, para uma primeira audição, causa muitas surpresas, sintetizadas por momentos mais intensos e mais calmos.

O clássico "É Preciso Dar Um Jeito Meu Amigo", pareceria de Erasmo e Roberto Carlos, traz elementos da música funk ao disco. A faixa é um resumo do momento em que os artistas passavam, embora tenham encarado o fim da Jovem Guarda de maneiras diferentes.

Já "Dois Animais Na Selva Suja Da Rua", de Taiguara, tem uma das histórias mais interessantes. A composição nasceu inspirada no relacionamento de Erasmo Carlos e Narinha. Os dois foram alvos de grande preconceito pois a na época companheira do artista já tinha filhos antes do tal relacionamento, o que não era aceito para a sociedade da época.

Outras faixas com caráter político são "Mundo Deserto de Almas Negras",um soul, também de Roberto e Erasmo, "Não Te Quero Santa", composta por Vitor Martins, Sérgio Fayne e Saulo Nunes e "26 Anos de Vida Normal", escrita por Marcos Valle e Paulo Sérgio. Esta última também foi lançada no álbum "Garra", do Marcos Valle, em 1971 e conta com referência ao pintor Hélio Oiticica.

“Considero o 'Carlos Erasmo' minha estreia na música adulta depois do prazeroso BÊ-A-BÁ da Jovem Guarda. Vários rumos musicais, incontáveis tendências melódicas e novos amigos músicos seriam um processo natural para minha evolução. O repertório foi intuitivo e os sons foram surgindo dependendo do “clima” que cada canção sugerisse. Esse disco consolidou minha maturidade e me projetou para um mundo real onde o sonho acordado ainda existia.” – diz Erasmo Carlos.

"Carlos, Erasmo" está disponível em todas as plataformas de streaming e foi relançado em vinil 180 gramas pela Polysom.



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