Resenha: Black Alien fica cara a cara com seus demônios em novo disco

Foto: Divulgação


Ele ainda é Gustavo, filho de Dona Gizelda e Seu Rui. Rapper, que aos 4.6 (existem poucos desta idade hoje em dia) se vê cara a cara com seus demônios em "Abaixo do Zero: Hello Hell". Black Alien, que teve em sua vivência o Planet Hemp, era um dos mais aclamados do gênero nos anos 2000. "Estava com a gata da novela de um lado, um puta disco estourado do outro, o ponto de ônibus com a minha cara", conta. As drogas sempre foram uma pedra no sapato do artista, mas a música sempre o ajudou a passar por cima.

"A música é que prejudicou minha carreira nas drogas. Eu era viciado muito antes de fazer o meu primeiro verso. Já passei por um monte de coisa na rua antes de fazer música. Foi o contrário: a música brecou a minha morte prematura no mundo das drogas", diz.

Em seu novo disco (o melhor da carreira) o cantor não vai em direção às modas atuais. Com letras e beats que beiram a perfeição, Alien não se faz de vítima, de santo ou de coitado. Entre versos e refrãos rápidos ele manda o recado: "Hello Hell" é Gustavo em essência. No registro você ouvirá os dramas de um Black Alien dependente, pitadas de um rapper amoroso e vários dedos nas feridas.




A produção é por conta de Papatinho (Cone Crew), o mesmo que interferiu na parceria espalhafatosa entre Anitta, Ludmilla e Snoop Dog. Mas aqui, Papatinho brilha como nunca.

No total, são nove faixas, suficientes para um disco extremamente delicioso que só melhora quanto mais você ouve. Todas as canções merecem destaque, mas as que se sobressaem são: "Carta Pra Amy", calcada no jazz e R&B; "Que Nem O Meu Cachorro", melancólica em um momento inicial porém catártica em sua progressão; "Aniversário de Sobriedade", auto-reflexão que merece atenção e a envolvente, classuda e crítica "Jamais Serão".

Dentre as diversas qualidades e nuances do álbum, o maior êxito de Gustavo é a calma exposta em sua voz e a dicção clara. Da criança ao velhinho, qualquer um entende o que o rapper diz. Em tempos de fast food, love songs, trap e speed flow, Black Alien é de outro mundo.

“Black Alien já vai tarde, já passou o seu momento”. Como diz o próprio rapper, significa que o cidadão não tem conhecimento. Há muitos como tantos, mas, Gustavo, apenas um. "Abaixo de Zero: Hello Hell" talvez não chegue ao sucesso do mainstream, mas é clássico por si só. Sábios são os que reconhecem isto.

Cotação: 5/5

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