Resenha: 30 anos de "Psicoacústica"

Foto: Lucas Lima

Desde que sabemos que o rock n roll aterrissou na atmosfera terrestre, podemos observar de perto que a música, ao passar do tempo, está sujeita a muito mais do que sentimentos individuais. Isto é, todos os movimentos, as consequências sociais causadas pelas canções, nascem e são rompidos por diversos fatores, por vezes externos. Um dos motivos mais especiais é a não acomodação do artista e a visão de mundo do mesmo.

Em 1988 o Ira!, banda paulistana que já tinha em seu catálogo dois discos de sucesso, "Mudança de Comportamento" e "Vivendo e Não Prendendo" (discos essencialmente baseados na subcultura mod inglesa, de bandas como The Who, The Kinks e Small Faces, que usam da influência negra americana, desde elementos do jazz até o blues) tinha  certa autonomia dentro da WEA, gravadora em que o grupo estava inserido na época.

Certa independência foi determinante para que os paulistas fossem atrás de outros sons, outras batidas e outras pulsações. Era o pontapé inicial para "Psicoacústica", registro lançado naquele ano, produzido pela própria banda e com diversas cores e sons, diferente de tudo que tinham lançado. Em um mesmo disco, é possível ouvir reggae, rap, samba e blues em uma grande mistura. Tudo isto devido a forte influência que os integrantes (Nasi, Edgard Scandurra, Ricardo Gaspa e André Jung) estavam ouvindo. Eles fizeram o que queriam, o que sentiam e o que acreditavam, e, quem se identificou, foi atrás.

É certo que o "Psicoacústica" não foi o álbum mais vendido do Ira! e nem é o mais conhecido, mas são discos como este (vale de exemplo também o "Selvagem" dos Paralamas do Sucesso) que inspiram novas bandas, novas eras (assim como inspirou o rock dos anos 90 no Brasil) e que de certa forma, cravam o nome de uma banda na história. Afinal, o mais do mesmo sempre acaba por enjoar.

Foto: Lucas Lima

O show

Os 30 anos do "Psicoacústica" foi comemorado em duas noites no Sesc Belenzinho, nos dias 14 e 15 de setembro. O Eufonia esteve presente no show do dia 14.

Desde a volta do Ira!, em 2014, não havíamos presenciado nada igual ao que aconteceu na noite de 14 de setembro. É certo que, quando o grupo voltou a ativa, era sentido uma falta de azeite no show, em especial pelo Nasi. No 50º show do grupo, que aconteceu na Audio Club, em São Paulo, era possível sentir uma boa atmosfera, mas era visível também uma falta de fôlego do cantor, que de acordo com o andar da apresentação menos se ouvia sua voz.

Foto: Lucas Lima


Mas o Nasi de hoje já é outro vocalista. Com uma presença de palco invejável, o cantor rejuvenesceu uns 20 anos. Seu vozeirão soa forte e alto durante todo o show, gestos são feitos a todo momento em direção a plateia, o palco fica pequeno pelo tanto que o artista se movimenta. No quesito vigor, Nasi é como um Steven Tyler ou Mick Jagger brasileiro.

A primeira parte da apresentação foi totalmente dedicada ao "Psicoacústica", "o disco da lata do Ira!", segundo comentou Nasi durante o show, em referência ao verão da lata. Foram aproximadamente 30 minutos, de muita empolgação, em que o disco foi executado. Era possível perceber fãs saudosos, felizes por escutar músicas que são difíceis de entrar em uma "apresentação normal", como "Advogado do Diabo" e "Poder, Sorriso, Fama".

O segundo bloco do show foi iniciado com "Flores em Você" e seguiu por sucessos como "Flerte Fatal", "Envelheço na Cidade" e "Núcleo Base". A banda voltou do bis com mais sucessos, as famosas "Girassol" e "Eu Quero Sempre Mais".

Este novo show do Ira! é ótimo para valorizar um dos mais importantes discos da música brasileira e para curtir a aura, ainda jovial, dos sucessos da banda. Como diria Silvio Luiz, vale o ingresso duas vezes.

Fontes para o texto: "Punk" - Antonio Bivar; "Dias de Luta" - Ricardo Alexandre; Music Thunder Vision - Luiz Thunderbird.

O Ira! é: Nasi, Edgard Scandurra, Evaristo Pádua, Johnny Boy e Daniel Scandurra.

Próximos shows Psicoacústica

Porto Alegre - 09/10 (ingressos)
Rio de Janeiro - 10/11(ingressos)

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