Entrevista: do karaokê para as pistas do indie pop com Gus & Vic

Foto: Saulo Stefano

Um trabalho de muitas cores, sons e amores. Assim podemos definir "Savana", álbum de estreia do duo Gus & Vic. Não somente duo, casal dos mais apaixonados, Gustavo Scanferla e Victoria Cosato se conheceram em um Karaokê. Na época, não tinham nada de concreto lançado na cena musical, apesar de Gus já flertar há algum tempo com composições e ter algumas apresentações no currículo.

Desde que se conheceram, lá em 2013, muita coisa aconteceu. O casal passou a morar junto e a dividir uma carreira. "Savana" é um dos resultados disso, um álbum com 12 faixas, calcadas no pop, no indie e no folk, com pitadas de diversas influências que pintam lá e cá. Aos poucos, o reconhecimento vem aparecendo, com um número considerável de plays no YouTube e em plataformas de streaming.

"A internet é o celeiro do nosso som. Começamos por este meio, ao invés do ínicio em apresentações para os amigos. É natural para nós dialogar através das redes sociais com nosso público, tão diverso em influências quanto na geografia. São fãs de todo o Brasil, além de um público internacional consistente que representa cerca de 20% de nossos ouvintes totais. Temos um carinho imenso por cada um que manda mensagens, respondemos todos, desde sempre", conta Vic.

Confira entrevista com duo logo abaixo:

EB: Para iniciar, eu gostaria de saber mais a fundo sobre a noite em que vocês se conheceram. Como começou o contato, o que vocês sentiram já naquela primeira noite, naquela primeira conexão e quais foram os próximos passos?
Vic: Foi uma super obra do acaso porque, em um primeiro momento, o Gus não ia naquele dia. Um amigo insistiu e foram juntos. Era uma noite de quarta-feira no Karaokê, em outubro de 2013. Quando cheguei, ele já estava lá e veio logo falar comigo, pediu pra um amigo em comum nos apresentar. Naquela hora estava próximo da minha vez de cantar, então chamei ele e os meninos para me ajudarem: era uma canção dos Backstreet Boys. 

Sempre levei Karaokê muito à sério. Precisava de um grupo. E assim foi, cantamos, nos divertimos e fomos cada um para um lado. Infelizmente, no meio da festa, um amigo quebrou a perna e todos fomos embora. Na hora da saída, Gustavo pediu meu telefone e em um mês já estávamos namorando. Fomos morar juntos em 2015 e, em 2016, iniciamos o projeto gravando vídeos cover para o YouTube e Facebook.

EB: Claro que este primeiro contato em um Karaokê deixa claro que vocês já eram amantes de música. Mas, de gostar de música para fazer música é diferente. Quando e como vocês decidiram que queriam trabalhar em um álbum autoral e o que motivou e motiva vocês a continuarem?
Vic: Nossa vivência musical vem de muito cedo. Meu pai é músico e suas composições são a trilha sonora de minha vida (menção honrosa a Aldebarã, que regravamos em nosso disco, Savana). Canto desde cedo e cultivo poesias e textos desde que aprendi a escrever. Projetos e capítulos iniciais de livros são mais de 20. Meu encontro com Gus trouxe à tona esse lado que não era explorado ou sequer visto por outrem desde a época em que participava de concursos de escrita na escola. Guardei tudo para mim mesma por muitos anos, criei uma bolha que me fez mal, negligenciando minhas paixões, tanto pela música quanto pela escrita. 

Nunca parei de produzir, porém tentava me enquadrar em padrões corporativos, seguindo o fluxo esperado de faculdade, estágio, emprego, casa, emprego, emprego e fim. Tudo isso foi gerando em mim uma frustração que culminou na busca por minha essência e finalmente na proposta que fiz para Gus, um dia em casa: "Não estou feliz, preciso cantar. Vamos gravar um vídeo?". No primeiro envio para o Facebook, somamos em um dia 30.000 visualizações. Daí em diante, o objetivo maior foi trabalhar as melodias e composições que criamos ao longo da vida, dando vida aos sentimentos, contando nossas histórias, as fantasiosas e as verdadeiras. 

Gus: Antes de nos conhecermos, eu tinha algumas composições já produzidas e alguns shows feitos também, mas tudo de forma amadora e devagar. Desde que me lembro, sempre gostei de “inventar” coisas, fazer sons e juntar várias ideias diferentes em algo que achasse interessante. Comecei a fazer música por causa desse gosto de criar coisas e por causa das composições musicais que surgiram. Lançar e espalhar os trabalhos autorais são a origem de tudo. Desde ir ao karaokê, aprender um instrumento, etc... É o que motivou e o que motiva a continuar.

Foto: Divulgação

EB: Vendo por fora, há um impressão que vocês cresceram muito rápido como artistas e que tiveram um certo reconhecimento bem rápido também. Vocês, por exemplo, têm músicas com quase 500 mil plays no Spotify, vídeos com bastante visualizações. Eu quero saber como que vocês analisam esta evolução e se estes bons números nas redes e plataformas de streaming refletem no público dos shows?
Vic: A internet é o celeiro do nosso som. Começamos por este meio, ao invés do início em apresentações para os amigos. É natural para nós dialogarmos através das redes sociais com nosso público, tão diverso em influências quanto na geografia. São fãs de todo o Brasil, além de um público internacional consistente, que representa cerca de 20% de nossos ouvintes totais. Temos um carinho imenso por cada um que manda mensagens, respondemos todos, desde sempre. Acreditamos no compartilhamento orgânico como o maior aliado do artista, e ele se baseia muito na troca que se tem com o ouvinte. 

Enquanto o artista ainda é não é conhecido em grande escala, existe um sentimento por parte dos fãs de responsabilidade pela divulgação do artista. É lindo demais ver esse movimento e, justamente pelo alcance do público, os números foram crescendo tanto em um ano e meio, desde que lançamos nosso primeiro single original, pós-versões. São mais de 1.8M execuções das faixas de nosso disco em streaming. Em maio, fizemos o show de lançamento de nosso álbum de estreia, "Savana", no Teatro Solar de Botafogo, uma excelente casa aqui no Rio. Até então, nos apresentamos diversas vezes em festivais, festas e casas de show, porém sem organizarmos os eventos em si. Nossa primeira experiência não poderia ter sido melhor: o Teatro teve lotação esgotada, com 350 pessoas e uma energia incrível. 

EB: "Savana" conta com mais músicas em inglês do que em português. Isto foi pensado por vocês, foi proposital até para alcançar um mercado lá fora?
Vic: As composições escolhidas para este disco, acima de tudo, contam momentos, histórias, personagens e épocas que se relacionam muito com o idioma que escolhemos. No estilo musical que manifestamos, há também interesse no mercado internacional. Indie pop é uma sonoridade que ainda está longe do mainstream brasileiro e 20% de nossos ouvintes são de fora do Brasil. Mas não acreditamos que a escolha pelo inglês seja uma constante. Sempre podemos mudar e escolher outros idiomas.

EB: Vocês tem um clipe novíssimo no ar, da canção "Juliana Icons". Vejo que o trabalho de vocês é de muitas cores (com destaque para o vermelho e o amarelo). Não só o clipe, mas na capa do álbum, na divulgação nas redes sociais e na sonoridade das faixas também. Para vocês, que são um duo pop, qual a importância desta estética e, além disso, esta estética é projetada, trabalhada, ou vai do momento, acontece naturalmente com o disco?
Vic: Somos os dois formados em publicidade e também trabalhei como designer por alguns anos, sempre buscando desenvolver um olhar apurado para questões estéticas, que aplico hoje na realização da carreira musical. Tudo realmente é muito pensado e buscamos sempre conectar detalhes em nossas produções. Temos a sorte de poder contar ainda com a equipe do GB Lab que já está com a gente há cinco videoclipes. Eles têm igual atenção às sutilezas de uma identidade visual e da caracterização dos elementos numa produção audiovisual. Acreditamos muito no poder dessa conexão.



EB: Eu sei que cada música tem uma história, mas sempre tem aquela que você tem um apego maior. Gostaria que cada um de vocês me dissesse uma música preferida de "Savana" e explicasse o porquê da escolha.
Vic: : Atualmente - porque temos, sim, nossos momentos de paixão por faixas específicas do disco, minha querida é "Another You". Principalmente pela sonoridade e escolha de timbres, a emoção e paz que ela me traz. Escrevi "Another You" em dezembro de 2016 como uma carta de amor para Gus e na hora de gravarmos ela caiu como uma luva para a inspiração dele mesmo. Bruno Lopes e Rodrigo Tavares, que trouxeram para a faixa toda a mágica dos instrumentos, traduzindo minha emoção. Sou suspeitíssima.

Gus: "We Know", pois fiz boa parte dela durante a nossa viagem de lua de mel e fiz tudo pensando na Vic.

EB: Para terminar, como que está sendo a atmosfera dos shows? É mais gostoso se apresentar ao vivo ou dar vida as canções no estúdio?
Vic: O que mais me agrada nos shows ao vivo é rever aquelas carinhas já conhecidas. Temos feito algumas apresentações por mês aqui no Rio e posso dizer que mais do que o volume ou a quantidade de pessoas, que, claro, também são estimulantes, o mais bonito é ver aquele fã, que já está vindo pela quinta, sexta, sétima vez, e continua se emocionando. Estamos em momento de gravar nosso novo disco, com lançamento previsto pro ano que vem. Adoramos gravar e compor, sem dúvidas. Mas levar isso pra quem absorve nossa verdade é melhor ainda.

Gus: Ao vivo é bem mais legal! Os shows têm sido bem animados, com a energia lá em cima. E queremos sempre mais disso, mais animação e mais energia


Comentários

  1. Eles são espetaculares. Aldebarã é uma das músicas mais bonitas dessa geração.

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