Entrevista: A música forte e calma de Larinu

Foto: Pryscila Colasso

De modo calmo e tranquilo, Larissa Nunes, a Larinu, coloca o dedo na ferida. Sua música é forte, mesmo sendo calma. A sonoridade transita entre o rap, a eletrônica e o R&B. Mas pode ser MPB também.

Sem medo, a cantora paulistana coloca suas referências em suas músicas. Assim foi em seu primeiro EP, homônimo, lançado no ano passado, com três faixas, sendo a primeira uma citação de Frantz Fanon, que instiga o ouvinte a mergulhar por inteiro. E mergulha, em poesias que falam sobre o outro, sobre a mulher negra, sobre fugir dos padrões.

Ainda pouco conhecida, convidamos Larinu a se apresentar e falar um pouco mais sobre suas músicas, além de claro, projetos já em andamento. Confira abaixo a entrevista com a cantora:

EB:  Para iniciar, gostaria de saber qual a sua história com a música? Provavelmente começou bem antes do EP. Como e quando você decidiu que queria trabalhar com música?
Larinu:  Sempre fui fascinada pela música e ela foi meu "portal"de
conexão com a arte em geral. Aos 14 anos, na escola onde estudava, formaram uma orquestra de câmara e lá aprendi a tocar clarinete. Antes, já sonhava em ser cantora. Não saía tanto de casa, então foi o início de um processo de composição e escrita também. Porém comecei a fazer teatro, dei um pausa no fluxo de composição e fui estudar artes cênicas. Só que senti um chamado pra música e estou tentando me realizar nesses dois projetos. Foto: Pryscila Colasso

EB: Além da música, você trabalha com o que mais?
Larinu:  Hoje sou atriz e cantora. Desenvolvo algumas escritas e projetos com minha companheira também.

EB: E como foi chegar até o disco? As composições já existiam antes da ideia de fazer o EP?
Larinu: O EP foi um "tiro no escuro" que deu certo. Em 2016 entrei no coletivo Carranca Records, onde trocamos referências e me apresentaram alguns produtores independentes. Foi aí que conheci André Frutuoso (Dé no Beat) e entrei em contato com um conhecido que estudou na mesma escola que eu, Eleiel. Ambos tinham beats disponíveis. Eu já tinha a letra de "Refúgio" e ela foi a primeira a ser produzida. Quando ouvi o beat de "Sagrada", compus a letra.

EB: Com quem você contou neste EP? Teve algum produtor? Quais foram os músicos que trabalharam com você?
Larinu: O EP foi composto por mim em seu conceito. A Carranca Records fez a produção executiva comigo e gravei as faixas no estúdio do Mud, do Hó Mon Tchain. A arte de capa foi do designer Marllon Robert. Foi um EP completamente independente, com contribuição colaborativa.

EB: A introdução do EP é na verdade uma citação de Frantz Fanon, certo? Como que você chegou nisto e por que foi importante colocar ali, abrindo o disco?
Larinu: O Teatro me proporcionou um encontro muito profundo com alguns pensadores negros. Faz parte da minha pesquisa como atriz estudar sobre autores como Achille Mbembe e Frantz Fanon. O trecho da intro é do livro "Pele Negra, Máscaras Brancas"e tem um tom introdutório importante. O entusiasmo tem sua ambiguidade e o EP foi feito com muita tranquilidade. Com ímpeto, mas tranquilo (risos). Por isso, pensei que esse trecho combinaria com o momento de estreia.

EB: "Sagrada" é a música que fecha o EP e é a que mais me chamou atenção. Qual é a história desta música? O que você quis passar com ela?
Larinu: "Sagrada" tem um lugar oração, de chamado. É onde quis fazer um fluxo simples de palavras para narrar a experiência da mulher negra como um fenômeno universal. Nos foi ensinado que a universalidade, a totalidade, o modelo de humano, é o homem branco. Portanto, eu, que faço questão de negar esse tipo de humanidade, quis com algumas palavras contextualizar minha visão como mulher negra no mundo. Também é uma convocação a todas as mulheres negras.

EB: A sonoridade das suas canções são bem delicadas e tem o trap, tem as rimas e é MPB também, pelo menos eu acho. Você define sua música de alguma forma?
Larinu: Difícil definir. Acho que tive essa coisa de tentar me definir quando vi o EP sendo lançado. Mas sou aberta aos estilos que ouço e tudo que me influencia aparece no que faço. Tenho raízes no hip hop, especificamente no R&B. Mas me estou ouvindo muita música eletrônica, a onda vaporwave, anos 90 e anos 60 especificamente. Certamente nos próximos trabalhos o estilo será um pouco diferente do EP.

EB: No que você tem trabalhado atualmente? Vem pensando em um álbum ou alguma coisa nova para este ano?
Larinu: Atualmente estou ensaiando uma montagem na Escola de Arte Dramática - USP, fazendo shows com a banda Loma e, em maio, lançarei músicas novas e uma surpresa. Em breve!


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