"Hoje, penso menos no que os outros vão pensar e mais onde e como sou feliz", conta Ana Cañas

Foto: Carolina Vianna

No refrão da canção, Ana Cañas grita, em tom de protesto: "Respeita, respeita, respeita as mina, porra!" Foi em maio deste ano que Ana colocou o seu grito para todo mundo ouvir. E não foi sozinha. Mais de 80 mulheres participaram do clipe de "Respeita", que ganhou show de estreia icônico no Centro Cultural São Paulo.

Rebelde, rockeira, do palco. Ana começou cantando jazz, em bares e hotéis paulistanos. Não tinha interesse em ser cantora desde cedo. Se encantou pela música ao fazer um teste para um musical, quando ouviu um standard de jazz interpretado por Ella Fitzgerald. Hoje, não vive sem o palco. "É o lugar mais legal que conheço no mundo", conta.

Em setembro deste ano, chegou ao Rock In Rio e lá deu seu grito de protesto novamente. Ao lado de Hyldon e de Edgard Scandurra, fez um dos shows mais contestadores do festival. Em entrevista ao Eufonia, a cantora conta mais um pouco sobre "Respeita", sobre sua paixão pelo palco e seu atual momento.

EB: O seu show no Rock In Rio teve grande repercussão também pelo tom de protesto. Para o momento que estamos passando, você vê que falta disso na música brasileira atualmente?
Ana Cañas: Acho que cada um deve agir de acordo com sua consciência e coração. Para  mim, vale muito a frase da Nina Simone: “não posso ser artista e não refletir o meu tempo”.

Com todos os retrocessos, fascismos, perda de direitos e liberdades, me sinto na obrigação de lutar, apoiar, somar e dar voz à todas as causas, que são de todos nós. Foto: Carolina Vianna


EB: "Respeita" tem um clipe muito significativo, com várias figuras que representam o grito de protesto, empoderamento, o sentido da música. Como que foi a experiência de gravação deste clipe, que reuniu mais de 80 mulheres, certo?

Ana: Foi muito forte, transformador, belo e a prova definitiva de que ‘juntas, somos'. E somos mesmo! Esta primavera feminista que vivemos é o reflexo da união, sororidade, mudança nos padrões de consciência e ampliação/amplificação da nossa luta e resistência.

EB: Por que lançar "Respeita" separado de um pacote, um trabalho maior, como um álbum por exemplo?

Ana: Porque era uma música urgente, era agora! (maio/2017). Fazer um disco é um processo diferente, tem uma costura que envolve o processo. Já o single tem uma desprendimento, uma individualidade estética e sonora, que flutuam. Não significa que seja mais fácil, mas o direcionamento das energias são diferentes.

Ana Cañas ao lado de Hyldon no Rock In Rio/Foto: Vinicius Pereira

EB: Qual a maior dificuldade de ser mulher na música?

Ana: Todos os espaços de tomada de decisão, poder e privilégios são ocupados por homens. É uma cadeia produtiva pensada e fomentada, em sua maioria, por eles. Resistimos, atuamos  e lutamos de maneira incisiva para que essa realidade se transforme.

EB: Olhando de 2007 pra cá, como você se analisa na questão de fazer música e se apresentar ao vivo? Fazendo uma análise própria, no que você mais evoluiu?

Ana: Evoluí no sentido de ficar mais velha (risos). E também na questão de estar cada vez mais alinhada aos meus sentimentos, às vontades do meu coração, às urgências da alma, do espírito. Hoje, penso menos no que os outros vão pensar e mais onde e como sou feliz. Direciono e canalizo tudo para esse lugar. Sem medo. /Foto: Natália Britos

EB: Já vi você dizer algumas vezes que você é artista de palco, assim como o Ney Matogrosso. Mas afinal, o que é subir no palco, o que isto significa pra você?

Ana: O palco, pra mim, é a síntese da vida, amplificada. Sei que é um paradoxo, mas é por isso que é tão interessante. É um vórtex, um bug na matrix, um scratch na realidade. As dinâmicas da vida, das paixões, do sexo, do amor, afeto, loucura, abismos, subjetividades, está tudo ali presente e intensamente. É o lugar mais legal que conheço no mundo.





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