Foto: Armando Bruck/SASP

Thais é também secretária da Federação da Agricultura. Há
três anos, se formou em Design de Moda e realizou o sonho de montar sua grife
de roupas carnavalescas. “Desde 2006,
2007 eu faço roupas para outras pessoas. Mas o ateliê mesmo existe há três anos,
na Pompeia. Minha mãe é costureira. Quando virei porta-bandeira, ela começou
a fazer minhas roupas. Eu fui para Imperador do Ipiranga e lá eu dançava com um
mestre-sala carioca (lá no Rio as roupas eram diferentes). Então eu sempre
pedia, 'faz alguma coisa diferente, mais ousada.’ Aqui é tão comportada. Até que um dia eu disse: ‘Mãe, me ensina aí vai’, porque aí eu conseguiria tirar o que estava
na minha cabeça, já que não sabia explicar. Ela me ensinou e comecei”,
comenta Thais, que faz todas suas roupas de ensaio e de alguns integrantes da
Peruche. No carnaval de 2017, produziu as fantasias da Velha Guarda. Foto: Fotos Públicas
Foto: Jacques Royzen
Sua relação com o carnaval é longa. Atualmente com 36 anos, começou a desfilar em 1992, quando tinha 11. Só não iniciou antes porque os pais não deixavam. Grande parte da família cresceu na quadra da Peruche. Em especial sua tia, Rosangela Paraguassú, que observou de perto a escola crescer. “A Thais sempre morou comigo, então a convivência é bem forte. Depois que ela começou a desfilar, só queria saber de dança. Não tinha tempo para aprontar, sempre foi uma boa menina”, comenta Rosângela, que acompanha a sobrinha até hoje, nos ensaios e nos desfiles.

"Quando a gente vê o amor que as pessoas têm, só de olhar no olho de quem idolatra a escola, é uma emoção muito grande. Só quem é de dentro sabe”.
“Antes de voltar, eu pensei lá nos anos 2000. Minha família retornou para a escola, minha tia nunca chegou a sair. Então me animei: ‘vamos lá,
tem uma proposta boa, um projeto bom da escola se reerguer.’ Um presidente
novo, com novos objetivos. Eu falei: ‘eu vou para ajudar, ver a Peruche que via quando era pequena'. Até porque a escola estava se perdendo. Ficou muito tempo no grupo de acesso, estava
perdendo sua história mesmo. Não me
arrependo de ter voltado”, complementa a porta-bandeira.
Hoje, além de dividir seu tempo como secretária, designer de
moda e porta-bandeira da Unidos do Peruche, Thais Paraguassú desfila também
pela X-9 no litoral paulista, e onde mais chamarem. “Eu tenho um amor muito
grande pela X-9. Fui convidada pelo presidente na época. Desfilo lá há três
anos. Já me apresentei também em escolas do interior. Tem lugares que adoraria voltar,
mas outros nunca mais. Às vezes falta organização. Tem carnaval no país todo. Tem desfile até em Manaus e é lindo", comenta.
A porta-bandeira se troca e seu parceiro, Jefferson Gomes, chega
para o ensaio, de azul e uma camiseta de São Jorge. “Olha ele, veio de São
Jorge”, fala Thais em tom humorado. Será o primeiro carnaval do casal.
Jefferson é novato na escola, até, por isso, eles resolveram começar a ensaiar
bem cedo.
“Desfilar não cansa. Dói, pesa, machuca, mas só se sente depois”.
“Eu dancei sete anos com o Robinson da Silva na Tucuruvi. Em 2015, dancei com ele aqui também. Em 2016 e 2017 eu me apresentei com o Fabiano
Dourado, que já havia dançado na Tucuruvi. Agora estou começando com o
Jefferson, pessoa que eu nunca imaginei que iria trabalhar. É uma mudança
grande, tanto que a gente já começou a ensaiar, é foco. Temos um objetivo e vamos em frente. É
difícil, é diferente, mas estamos unidos pelo melhor “, analisa Thais.
O ensaio começa. Com a quadra vazia, Jefferson liga uma
pequena caixa de som, suficiente. Com um largo sorriso, Thais, vestida toda de
azul, ostenta a bandeira da filial. “Ser porta-bandeira e ostentar o pavilhão
da escola é uma honra enorme. Quando a gente vê o amor que as pessoas têm, só
de olhar no olho de quem idolatra a escola, é uma emoção muito grande. Só quem
é de dentro sabe”, emociona-se.
"Têm pessoas de fora, que não são do carnaval, que não gostam. Tem gente que fala: ‘Ah, você vai pro desfile?’ ‘Você dança pelada? Coisas assim. Aí eu tento explicar. Tento colocar na cabeça das pessoas.”
O casal discute a respeito dos passos e tudo que se pode se imaginar é uma quadra cheia, o par com suas roupas luxuosas, no centro do local. E quando se fala em fantasia, é bom enfatizar que a vestimenta de uma porta-bandeira pesa em torno de 20kg. Porém Thais não liga. Não sente na hora da avenida. “Tudo passa tão rápido no dia, você nem vê”, diz. “Desfilar não cansa. Dói, pesa, machuca, mas só se sente depois”, complementa.
E se dentro da escola a paulistana, que sempre morou na zona norte da cidade, não sente desconforto algum
em se apresentar, a porta-bandeira ouve o preconceito de quem olha de fora. “Dentro
do meio me sinto totalmente confortável. Nunca sofri nada. Têm pessoas de fora,
que não são do carnaval, que não gostam. Tem gente que fala: ‘Ah, você vai pro
desfile?’ ‘Você dança pelada? Coisas assim. Aí eu tento explicar.” O ensaio continua e o casal corrige alguns
passos. Dão risada. “Eu costumo opinar sobre o que está bom ou o
que não está. Quando era o outro mestre-sala, eu falava mais. Mas ainda dou
palpite sim”, comenta Rosângela.
"Eu tenho uma cobrança interna sabe, então, meu Deus do céu, se não trouxer a nota, se não conseguir, quanta gente eu vou decepcionar”
“Minha tia, Rosangela, é Peruche doente. Eu comecei aqui
porque minhas tias sempre frequentaram a escola”, relata Thais, que mesmo há
tanto tempo ativa no carnaval, não foi campeã nenhuma vez no grupo
especial. “O melhor carnaval para mim
foi em 2013, na Tucuruvi. O enredo era sobre o Mazzaropi. Ficamos, se não me engano, em quarto lugar. Em
2011, com a Tucuruvi, fui vice-campeã.”
Mas se há momentos que valem lembranças, existem também os que Thais
quer esquecer. “Em 2016, não foi tão bom. Nós tivemos muitos problemas com
fantasias. Eu perdi muita nota neste quesito. Quando você perde nota em uma
coisa que não é culpa sua, dói. Dói mais. A preparação foi legal, mas o desfile, não foi nem um pouco bom”, relembra.
De olho em 2018
Thais no carnaval 2015/ Fotos Públicas
De olho em 2018
A luta pelo título já começou na Unidos do Peruche, e a escola, conta
com a determinação e o foco de sua sorridente e carismática porta-bandeira e de
seu mestre-sala, que se diverte no ensaio, rodeando o símbolo da escola fixado
no chão. “A escola está crescendo, o nosso presidente tem muita vontade de
fazer o melhor, ele é muito competitivo. Às vezes o resultado não é como a
gente imagina. Mas quem está com ele sabe o quanto trabalha", ressalta Thais.

Há também as encomendas do ateliê. E ela adora tudo isso.
Percebe-se na alegria ao falar sobre o assunto. Nunca pensou em abandonar esta
vida. Thais sorri, balança a bandeira. Se solta. “É claro que dá orgulho. Eu
vejo a Thais desde pequena até aqui. É uma evolução muito grande”, finaliza a
tia Rosângela, mas que também pode ser considerada uma segunda mãe.
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