Thadeu Meneghini fala sobre nova fase do Vespas Mandarinas e atual cenário no rock nacional

 O vocalista e baixista do Vespas Mandarinas, Thadeu Meneghini, nos concedeu uma entrevista exclusiva, nela ele conta um pouco sobre essa nova fase da banda, ou power duo se você preferir. Ele nos contou sobre suas influências e o que acha do cenário atual no rock nacional. Vale a pena conferir!

Foto: Camila Cara


EB: Como você vê essa nova fase do Vespas?
Thadeu: Vejo pela perspectiva de quem está lá dentro da colmeia, trabalhando para evoluir em um propósito. Muitas vezes o que assusta é aquilo o que a gente é de verdade, a natureza é implacável. 

Se voltarmos lá atrás, voltarmos no tempo, no início de tudo, já éramos uma dupla em 1986 (risos). Quem chegou  e se juntou a nós encontrou uma estética já em desenvolvimento, sendo constantemente aprimorada.

Eu e o Chuck viemos de outras bandas bem distintas, mas quando nos juntamos, a gente só queria saber de uma coisa: Encontrar um refrão! E cantar canções para fazer a moçada cantar junto com letras poéticas e densas que não fugissem da nossa verdade.  É uma entrega, uma necessidade, que continua viva e pulsando até hoje.  

EB: Você acha que o rock nacional está em decadência?
Thadeu: A gente vive em uma fase um tanto quanto difusa.  Eu acho que em toda a cultura musical brasileira atual, de massa ou não, está presente uma informação ou um gene do rock. Seja na sonoridade ou até em uma certa “atitude”. Tem rock no sertanejo universitário, tem rock na nova MPB, tem rock em trilha de filme, na novela da TV e por aí vai, mesmo que falte aquela subversão.

Sem julgamento ou preconceito, uma coisa é verdade: o rock produzido atualmente não tem sido popular e não tem se aproximado dos meios que contribuem pra isso.  Sabe o que acontece quando o Metallica lança “Enter Sandman ou o Daft Punk lança Get Luck? É muito difícil alcançar isso sem uma absurda dedicação e um apoio de uma grande indústria. Ao mesmo tempo que isso também deflagra o quão é saudável o rock flertar com o popular, sem perder o seu lado crítico, sarcástico ou contundente. Esse é o ponto. Arriscar nesse sentido pode ser estimulante, tanto para quem ouve, como pra quem faz. É claro que existe um outro lado também, mas eu, sinceramente, não tenho visto ninguém fazendo nada “avant-garde” no rock nacional hoje, o que seria foda demais.

“Falta de sacanagem” eu já vejo há tempos, tenho visto muito pudor no rock e até certo conservadorismo. E isso é terrível, pois o rock, historicamente, é a música que mais contribuiu para avançarmos em questões de preconceito ou mudanças do status quo. Não que o discurso tenha que ser "panfletário", mas sinto falta de movimentos mais libertários, que gritem um belo de um foda-se para os caga-regras e para  sociedade que dita o politicamente correto. Tenho um sentimento de que essa força do rock não se perdeu e já está novamente sendo requisitada por conta do momento politico do país, que ainda terá muitos desdobramentos nefastos.

Uma coisa que também tem afetado bastante é o fato da música ter perdido seu valor de mercado, em uma sociedade de alto consumo e custo de vida altíssimo, ninguém mais acha que deve pagar para ter música, e isso desembocou em um ambiente de baixa competitividade criativa. Lógico que existe muita gente criativa, mas o cenário no geral tem sido prolixo e pulverizado. 

Tem sido cada vez mais difícil para músicos, e principalmente para novos compositores viverem em uma sociedade onde o custo de vida é alto, e a música é um “produto” de baixo valor ou de valor zero pra uma grande parcela da população. Um talento em potencial vai ter que pensar 2 mil vezes antes de se embrenhar em uma atividade que a sociedade não deseja que seja bem remunerada? Daí é natural que essa atividade se torne um tanto quanto amadora. Artistas com talento precisam de outros trabalhos para sobreviverem, e fica mais difícil de acontecer os mesmos fenômenos que eu falei sem o apoio da indústria, que também já deu seus “tiros nos pés” algumas vezes. Tem gente que está satisfeita com isso, eu não estou. Essa na verdade é a minha luta no meu dia a dia. 



"Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?"
(Enquanto respondia essa pergunta essa música tocava no celular de uma pessoa que passava pela rua)

EB: Vocês não pensam em um baterista para um futuro próximo?
Thadeu: A bateria é um instrumento presente nas nossas músicas, mas não necessariamente um baterista fixo. No álbum novo tivemos vários bateristas: Pupilo (Nação Zumbi), Clayton Martin (Cidadão Instigado), Marcos Suzano, o próprio Chuck e o André Dea, por exemplo. Mais importante que o formato é o lugar onde chegamos, a gente se permitiu ter essa liberdade.

EB: De onde veio a ideia de juntar "Cagaço", dos Paralamas e "Um Homem Sem Qualidades?
Thadeu: Eu sempre improvisava algo nos shows, tentei várias coisas: “Polícia” dos Titãs, “Me perco nesse tempo” das Mercenárias e “Panico em SP” dos Inocentes. Essas foram algumas tentativas, mas a junção que colou mesmo foi a de “Cagaço”. O público sempre canta junto como se uma já estivesse fazendo parte da outra.

Essa união apareceu para mim como uma volta no tempo, até por trazer uma letra de uma música que, na verdade, nem foi tão bem recebida na época que foi lançada. Lembro que ela foi o primeiro single que os Paralamas lançaram do álbum “Severino”, um dos meus discos preferidos.

“Cagaço” é o tipo de letra, que todo letrista de música que se preze, tinha que se espelhar antes de escrever.

EB: Quais são suas maiores inspirações no baixo?
Thadeu: Gostava muito do Nando Reis como baixista e do Peter Hook do New Order, tem a Sandra Coutinho das Mercenárias, muita gente incrível em varias épocas. O PJ do Jota Quest, o Lelo do Skank, o Gessinger, o Lee Marcucci, a lista é extensa nem dá para falar  todo mundo aqui. Mas se fosse pra dizer só um nome eu diria Willy Verdager. 

Agradecemos ao Thadeu Meneghini pela atenção e simpatia!

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