Resenha: Walter Franco passeia por vários mares em "Vela Aberta"

 Depois dos sucessos diante a crítica com os álbuns Revólver (1975) e Respire Fundo (1978), o embarcadiço Walter Franco resolveu explorar muitos mares com o Vela Aberta, e é exatamente sobre isso que diz a faixa título, uma música leve, que avisa  ao ouvinte de que nada será homogêneo nas próximas faixas, mas a vela segue em frente, sem um rumo totalmente definido.


 A segunda faixa, “O Dia do Criador” já se difere da leveza da faixa título, é apresentada uma melodia dançante com um belo solo de guitarra . Durante toda a música é possível perceber um agradável backing vocal que é levantado no pós refrão, que aliás, assim como o refrão, não é fixo;  com certeza a música mais heterogênea do álbum.
 O álbum segue com “Canalha”, a música mais pesada do álbum, tanto no vocal rasgado, como na melodia. A música começa lenta, com um piano introdutório que no início é acompanhado das guitarras, levando para a explosão da música.  É possível ouvir uma forte linha de baixo junto ás guitarras distorcidas, que ficam ainda mais em destaque justamente após a  “explosão” da música, no grito revoltado de canalha. As próximas duas faixas , “Corpo Luminoso” e “Divindade” mostram uma repetição na letra que poderá ser visto também em outras faixas. Apesar de repetitivo não é desgastante e funciona como um chiclete na cabeça, “Divindade “ ainda tem uma variação maior de melodia e é também mais rápida com alguns solos de guitarra, diferente de “Corpo Luminoso” que é swingada.
 O disco volta a ter um caráter mais leve em "Tire os Pés do Chão", mas a leveza já sai de cena na faixa seguinte, "Como Tem Passado", que tem uma face mais alegre e traz de volta uma letra repetitiva. É importante destacar que Walter Franco tornou suas repetições em genialidade, deixou suas músicas mais gotosas e um tanto quanto natural, o que muita gente não consegue fazer. É impossível se cansar e passar para a próxima faixa antes da canção terminar.
 Se "Vela Aberta" terminasse aí, com certeza já estaria ótimo, mas ótimo é pouco para Walter Franco. Até "Feito Gente", o álbum contava com todas as faixas inéditas, esta última já tinha sido gravada no álbum Revólver, de 1975. Na versão de 75, a música tinha um peso absurdo nas guitarras, ela que teve a missão de iniciar o álbum, fez isso bem diferente de "Vela Aberta", que iniciou o álbum homônimo com leveza. O fato é que Feito Gente de 1980 é bem diferente da versão de 1975, apesar da letra ser a mesma. Walter resolveu fazer uma versão minimalista da música, então se você prefere algo mais pesado, vai preferir a versão do "Revólver", mas isso vai de cada um, as duas versões são geniais.
 A reta final do álbum é onde as coisas mais se distinguem, a faixa "Me Deixe Mudo"volta pra pegada descontraída, algo parecido com "Como Tem Passado". Em "Bicho de Pelúcia", Franco mergulha na psicodelia ,talvez a música mais diferente do álbum, não contendo bateria nem guitarras. Para fechar o álbum foi escolhido um Blues, "O Blues é Azul", que destaca o refrão com as backing vocals.


 Caracterizar Vela Aberta em um único gênero é impossível, mas é impossível também dizer que o álbum é bom, o álbum é ótimo, você ouve em um único artistas vários lados, um álbum mais do que recomendado.

 Vela Aberta, 1980 , tracklist:

 01: Vela Aberta
 02: O Dia do Criador
 03: Canalha
 04: Corpo Luminoso
 05: Divindade
 06: Tire os Pés do Chão
 07: Como Tem Passado
 08: Feito Gente
 09: Me Deixe Mudo
 10: Bicho de Pelúcia
 11: O Blues é Azul

 Destaques: Vela Aberta, O Dia do Criador, Divindade, Feito Gente, Bicho de Pelúcia.

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