Entrevista: Uma nova fase de Angélica Duarte e a importância de uma intérprete

Foto: Amandha Levandowski

São Paulo é mesmo uma cidade de muitos contrastes. Pela manhã, pode se fazer um frio de rachar, e, na tarde de um mesmo dia, é possível sentir um calor de quase 30 graus. Foi em um dia assim que Angélica Duarte, cantora paulistana que hoje vive no Rio de Janeiro, se apresentou na Casa Tucupi, um pequeno espaço na terra da garoa. Quando chegou na Vila Mariana, bairro onde seria a apresentação, o tempo já estava frio (ao amanhecer, calor).

Hoje radicada no Rio, Angélica está estreando (ou reestreando) sua carreira, embora esteja há mais de 10 anos na cena. É, pode parecer contraditório, mas a artista vive agora uma nova fase. Quando realmente começou, há uma década, a cantora e compositora se inseriu no meio erudito. É certo que ainda antes, a artista já tinha se aventurado por uma música popular, mas nada muito profissional.

"Eu comecei a compor na adolescência, fazia algumas músicas. Eu insisti muito para meus pais me colocarem nas aulas de música, demorou para eles toparem. Fiz um pouco de guitarra, fui estudando, e quando já tinha 17 anos comecei a estudar canto. Uma professora me incentivou a seguir pelo canto lírico, achou que eu tinha que desenvolver e tal. Me animei, gostei, cantei bastante, conheci um repertório imenso, mas...sei lá...eu vi que meu coração não estava naquela carreira", conta a cantora.

Foto: Lucas Lima

Aos poucos, Angélica Duarte vem voltando para a música popular. Por enquanto, a cantora lançou-se apenas como intérprete oficialmente, apesar de já ter muitas composições próprias prontas. Seu novo EP, "Odara", em que interpreta canções de Caetano Veloso, já está disponível em todas as plataformas de streaming.

"O Caetano é minha maior referência de compositor. É um dos artistas que eu mais respeito, que mais gosto e que mais ouço. Quando fui morar no Rio, comecei a fazer um show dedicado a ele (Caetano) e, as canções que eu escolhi, meio que contavam a minha história de ida pra lá. Para o EP eu selecionei três momentos bem diferentes, porque no show tem de tudo", explica. "Ser intérprete é uma coisa muito boa. Me considero, alias, primeiro intérprete e depois compositora. O que é difícil é fazer com que a música do outro seja sua também. É colocar sua identidade ali", completa.

Foto: Lucas Lima

Um dos desafios de muitos intérpretes é colocar uma roupagem diferente para canções hiper populares, como por exemplo sertanejo e pagode. Embora não tenha feito nada do tipo, Angélica encararia sim tal instigação.

"Tenho um amigo que fala assim: 'Não existe música ruim, existe cantor ruim'. Eu acho isto muito legal, porque às vezes o intérprete tem meio que umas gororobas na mão que faz aquilo se transformar. Cabe ao intérprete da canção, seja com uma música de sertanejo universitário ou Chico Buarque, transformar aquilo em um negócio interessante e que envolva o seu público. Não acho que todas as músicas tenham salvação, mas é um desafio que eu teria coragem de encarar", comenta.

Odara

O EP "Odara" tem arranjos e direção musical de Pedro Franco, que também toca com Maria Bethânia. O registro conta, além da faixa-título, com "De Manhã" (1965) e "Tigresa" (1977).

“Conheci muito do repertório do Caetano através também das interpretações da Bethânia. ‘De manhã’ é uma música que sempre gostei, achei importante colocar no show e no EP, pois se tornou uma das músicas que mais gosto de cantar, pelo astral, pela beleza do arranjo e principalmente pela singeleza da letra”, conta Angélica. “Esse repertório de Caetano Veloso extrai a felicidade que existe em mim, sempre fui muito melancólica e arrastada em minhas interpretações, mas o clima, os músicos, os arranjos, tudo isso fez com que essa sonoridade vibrasse diferente. Por isso ‘Odara’ para o nome do EP. Quero que essas canções tragam coisas boas para seus ouvintes, assim como trouxeram pra mim”, completa.

Sobre um disco autoral, é certo que ele virá, mas por enquanto, sem nenhuma previsão, já que o projeto, de fato, ainda nem teve início. 

"Ainda quero muito rodar com o show de 'Odara'. Meu retorno para a composição ainda é muito recente, faz três anos. Eu sou intérprete há mais tempo. Então quero consolidar mais meu lado de arranjadora e compositora. Não tenho pressa de lançar este trabalho autoral, quero fazer com muita paciência e respeito comigo", finaliza.


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