Funk toma conta da internet, sustenta maior canal brasileiro no YouTube e chama atenção dos gringos

MC Bin Laden e Skrillex no Lollapalooza 2016/ Divulgação

Foi no início dos anos 2000 que a febre do funk carioca pegou em todo país. Na época, o comércio ilegal contribuiu para que o som chegasse aos ouvidos do público. Mas o funk deixou de ser só carioca. Hoje, estão em alta os funks paulista e o curitibano, dividido em vários subgêneros, como ostentação, melody e proibidão.  Com a internet, a divulgação ficou mais fácil e abrangente. MCs conseguem milhões de visualizações com videoclipes elaborados, a maioria dirigido por Konrad Cunha Dantas, o Kondzilla, dono da produtora de mesmo nome e um dos responsáveis pela ascensão do funk paulista desde 2011.

De lá pra cá foram mais de 400 clipes produzidos, totalizando mais de 10 milhões de inscritos e 5,5 bilhões de visualizações no canal da produtora, o maior do Brasil no YouTube. Os vídeos custam a partir de R$ 50 mil. São produzidos em uma casa, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Lá trabalham, entre funcionários fixos e freelancers, cerca de 35 pessoas. Dividida em dois andares, existe a sala de reuniões além dos espaços para produção e pós-produção.

Em uma única semana, são produzidos até 6 vídeos, sendo que todos alcançam pelo menos 1 milhão de visualizações em um dia. Quando viralizam, passam de 200 milhões de views. “Não podemos garantir sucesso. A gente não fala, ‘olha vai fazer sucesso por que está no nosso canal’, nós garantimos as visualizações, mas esta aceitação varia, é muito orgânico pra gente”, esclarece Bárbara Silveira, assistente de pré-produção na Kondzilla.

Reconhecimento foi exposto em documentário

O sucesso surpreendeu até o pessoal de fora. Os DJs americanos Skrillex e Diplo chamaram MC Bin Laden, uma das sensações de 2016, para se juntar ao palco com eles.  Toda essa movimentação chamou atenção da Red Bull, que produziu “Back To Baile de Favela”, documentário sobre a ascensão do funk paulista. “Quando eu cheguei lá eles falaram: ‘Nós queremos falar sobre os DJs gringos prestando atenção no funk paulista, por que isso tá acontecendo?’ A partir desse questionamento, eu criei o projeto”, relata Pedro Gomes, 33, diretor do documentário.

Apesar de não ter um número preciso, Pedro acredita que o investimento em torno de “Back To Baile de Favela” tenha sido em torno de R$ 60 mil. Também não se pode ter noção de quantas pessoas já assistiram, já que o site da Red Bull não expõe os dados de acesso. “Eu acredito, bem no chute, que pelo menos 100 mil pessoas já chegaram a ver”, comenta o diretor. 

MC Bio G3 em cena do documentário "Back To Baile de Favela"

O documentário reúne em três episódios, sendo um extra, personagens importantes. Um deles é Kondzilla, produtor que todo funkeiro almeja conhecer. “O YouTube tem um papel importante, enfatize essa palavra, importante. O Kondzilla tem um papel fundamental. Mesmo se existisse o YouTube e não existisse o” Kond”, os MCs não seriam tão grandes”, declara Gomes. “A Kondzilla funciona como uma vitrine no funk. É a janela de trabalho para o funkeiro. Quem tem vídeos no canal é bem visto tanto pelos fãs quanto pelos contratantes”, complementa Rubens Rocha, o MC Jerry, 21, que acaba de gravar seu primeiro vídeo com a produtora.

Arte apesar do preconceito

O funk ainda é encarado com preconceito e de maneira estereotipada, muitas vezes porque vem da periferia e algumas letras trazem assuntos como uso de drogas e erotização da mulher.  Para Gomes, o ritmo, como qualquer manifestação artística, é um reflexo social: “Muitas vezes, a pessoa que está escrevendo não é maldosa. O funk tá aí pra ser visto como qualquer estilo musical. Por si só já é um reflexo social”, explica. “O funk me levou onde eu jamais conseguiria com um trabalho normal. É mais que trabalho, é diversão, é hobby. Estar neste meio é fazer o que eu gosto”, finaliza Jerry.



Se na internet os funkeiros têm a liberdade de dizer o que querem com suas letras, no rádio e na televisão não é assim. Nas estações radiofônicas é comum tocar o funk melody, já outros estilos é bem raro. Na TV, diversos programas convidam MCs somente depois que estouram no YouTube, porém as músicas ganham outras versões, com letras mais leves. “Se você é um artista de funk e quer tocar no Faustão, existe um jogo. Se você não estiver disposto a seguir as regras, você não entra em campo. É questão de escolha. Quer aparecer na TV, vai ter que aceitar as regras e deixar as letras explícitas de lado”, explica Pedro Gomes. “A internet hoje dá um resultado melhor. Tem um monte de MC estourado que nunca nem apareceu na televisão”, complementa Jerry.

A Kondzilla, com intuito de suprir a falta de notícias relacionadas ao funk nos portais e na mídia impressa, lançou recentemente um espaço que cuida da área midiática dos seus artistas. Todo material referente aos cantores são publicados no site e nas redes sociais da produtora. Konrad Cunha já tomou conta também da área empresarial dos MCs. Hoje ele é agente de alguns funkeiros como MC Guimê, Bin Laden, Kevinho e Tati Zaqui. 

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